junho 21, 2013

“FINCO O MEU REMO NA ÁGUA LEVO O TEU REMO NO MEU”


.com a alma represada por dúvidas escutava “al outro lado del río”, trilha sonora do filme  “diários de motocicleta”. sempre me toca, cala fundo. por esses dias, mais. não sei se pelos protestos que estão acontecendo no brasil. vislumbro  “uma luz no outro lado do rio”? tenho meus preconceitos e quando penso neles relaciono à escuridão. metáfora para nos lembrar das noites de trevas em nossas vidas. feito sombras na noite nos alimentamos dessas ignorãças que tanto nos distanciam dos semelhantes. na canção de jorge drexler, noites escuras na beira de rios onde mal  se distinguem as águas, se entendermos estas águas como dias que não se repetirão. vai daí, por correntezas da vidinha, mesmo sem permissão, torna-se imperioso atravessar até outras margens de rios desconhecidos. mas como nos permitir se é tudo tão escuro que sequer conseguimos controlar nossos receios e pavores? difícil responder. tudo é muito individual. alguns de nós até conseguem perceber que existe uma luzinha tênue no outro lado do rio, que pode guiar nossa travessia. mas a gente sabe que alguns rios são mais caudalosos, fluxos desconhecidos, por isso alguns precisarão mais que outros, remar com muita intensidade para alcançar a costa mais adiante. sim, sempre haverá desistências. sendo que alguns so poderão contar com a força da sua voz interna...

O dia vai vencer aos poucos o frio
acredito ter visto uma luz ao outro lado do rio.

Principalmente acredito que nem tudo está perdido
tanta lágrima, tanta lágrima
e eu sou um copo vazio.
ouço uma voz que me chama... quase um suspiro
rema, rema, rema.

Nesta margem do mundo
o que não é represa é baldio
acredito ter visto uma luz ao outro lado do rio.

Eu, muito sério, vou remando
e bem lá dentro, sorrio
acredito ter visto uma luz ao outro lado do rio.


. mais de quarenta anos sem interpretar o “rio” que atravessamos durante essa vida de boiada. a maioria continuou na mesma margem como um copo vazio. agora, tratamos de recompensar o tempo vão. caminhando, protestando, remando para chegar “a outra margem do rio”. já li que “nenhuma história restringe-se às suas margens: sempre existem os desvios, as infiltrações, as rachaduras, as potências a latejar pequenos tremores; o sujeito a desfazer-se no movimento”. é o que vai acontecer? a tevê não se cansa de  mostrar os protestos, de todas as esquinas, conforme seus interesses. e a manada da minha aldeia não conseguiu nem transgredir. não desceu na contramão a avenida principal da cidade para protestar. não foram capazes de tripudiar na frente da casa do povo... “ei vereador leve junto o seu fedor”. da corrupção, da mutretagem. não. passaram batido, cada um com suas premissas, tolerâncias e raivas a lhe guiar. manada é o meu preconceito. “talvez o objetivo hoje em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o que somos”, escreveu foucault. não sou. sou? hanna arend dizia que o mundo não é humano por ser feito de seres humanos ou por que tem uma voz humana, mas sim porque partilha, ou seja, se solidariza, com o mundo e com os homens, e discute a humanidade da vida. hanna, sou mais rasa que o raso rio. seria capaz de levar pedras nos bolsos e jogar contra algumas instituições durante o trajeto  das ilusões. esse momento histórico que vive o país não me emociona. mais preconceituosa fiquei. ou crítica? se o primeiro, me vejo uma ignorante. se crítica, preciso rever meus conhecimentos práticos de mundo nesse percurso tendencioso por onde passam as águas da vida. tempo de comunicação em tempo real: cada cartaz levantado, cada bandeira brasileira feito manta nas costas dos manifestantes  vai direto para o facebook, para a globonews. nossos atos universalizados instantaneamente nos ligando, linkando, conectando a todo cafundó do planeta. até dá pra imaginar a extensão que alcança  uma idéia preconceituosa ou um ônibus incendiado em protesto tomando o rumo do infinito, pela internet. e do rio, sampa, brasília até chegar na minha aldeia, imitamos e gritamos as mesmas frases. vamos todos pra lá, pra cá, ê boiada. nesta margem do mundo, o que não é represa é baldio.


            

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